Este blog está associado ao projeto de doutorado chamado "As
palavras na ponta da língua, uma abordagem neurolinguística", financiado
pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), através do
processo 2011/08868-4. Ele faz parte do programa de doutorado em Linguística do IEL (Instituto de Estudos da Linguagem), da UNICAMP (Universidade do Estado de Campinas). A pesquisa é realizada por mim, Marcus Vinicius Borges Oliveira, sob orientação da Prof. Dra. Rosana do Carmo Novaes Pinto.
Logo abaixo colocarei um resumo geral do projeto e o termo de consentimento da pesquisa. Caso você necessite de
mais informações ou queira entrar em contato, escreva para mim através do email
marcus.oliveira.fono@gmail.com.
Se você tiver interesse em participar desta pesquisa, ela funciona como
um diário em que você faz um relato sempre que uma palavra estiver na ponta da
língua. Não precisa ser no momento exato em que acontece, mas é importante que
você faça relatos constantes dentro de um período determinado de tempo, que podemos
estabelecer em conjunto, sendo o mínimo de 30 dias. Para participar, é só clicar no link à sua direita, ou
aqui.
As palavras na ponta da língua - Uma abordagem neurolinguística
Conhecido na literatura da área como “tip-of-the-tongue”, doravante
referido como TOT, este fenômeno foi abordado pela primeira vez, enquanto
investigação sistemática, em 1966, por Brown e McNeill. Segundo a
literatura, a ocorrência do TOT refere-se ao momento em que o sujeito procura
uma palavra acompanhado da sensação de que esta já vai surgir ou que já lhe
escapou – o que justifica o uso da metáfora de que a palavra se encontra “na
ponta da língua”.
Este fenômeno já tem intrigado psicólogos por mais de um século. Em
1890, Willian James (pág.251), ao escrever sobre os diversos estados em que há
uma conjunção de conhecimentos e uma falha em recuperá-los, incluiu os TOTs
como um exemplo no qual existe a sensação de que a palavra está iminente. Ao
comentar o fenômeno, diz que este estado de consciência é peculiar, pois;
“There is a gap therein; but no mere gap, it is a gap that is intensely
active”. Esta intensa ativação se refere à sensação de saber que estamos
próximo a palavra-alvo, mas se alguém nos propõe nomes que não sejam aquele
único, definitivamente singular, nós os negaremos.
A ocorrência da dificuldade de encontrar palavras de forma tão
peculiar é verificada tanto na normalidade quanto em algumas patologias de
linguagem. Nas afasias, muitas vezes, os discursos se tornam mais disfluentes,
marcados frequentemente por pausas, hesitações, repetições, entrecortados por
falas cristalizadas, como: "eu não consigo falar", "eu sei, mas
não...", ou acompanhados por gestos que indicam que a palavra está na
ponta da língua (os sujeitos apontam para a ponta da língua enquanto falam).
A maior parte dos estudos descritos na literatura reflete sobre os TOTs
apenas a partir de dados empíricos (em contextos experimentais). Apesar da
relevância destes estudos e de seus achados, defendemos que estudos
qualitativos que considerem, sobretudo, os contextos de ocorrência dos TOTs permitem
compreender melhor as características do fenômeno, bem como aspectos do
funcionamento semântico-lexical, tais como a relação entre a linguagem e outras
funções psicológicas superiores como memória e atenção.
Nesta discussão, o conceito de cérebro como sistema funcional complexo é
essencial, bem como a noção de linguagem constituída dialogicamente e
historicamente pelo trabalho dos sujeitos, sendo ambos múltiplos e incompletos/indeterminados
(Bakhtin, Franchi, Coudry, dentre outros). Estes pressupostos estão ainda em
consonância com outros estudos que deverão respaldar nossas reflexões: (1)
Vygotsky, sobre a formação dos conceitos; (2) Luria, sobre o modelo
neuropsicológico a ser utilizado; (3) Jakobson, sobre os eixos da linguagem e
suas repercussões nos estados patológicos” (4) Bakhtin, sobre o conceito de
“enunciado” como a unidade real da comunicação, célula viva da linguagem.
Sendo assim, este projeto tem como objetivo a caracterização linguística
dos TOTs, tanto nas patologias (com ênfase nas afasias) quanto na normalidade,
respaldado pelos pressupostos teórico-metodológicos da neurolinguística de
orientação enunciativo-discursiva. O estudo do TOT pode nos ajudar a
compreender a organização dos campos semântico-lexicais e sua relação com as
demais funções cognitivas complexas (sobretudo a memória). Compreendendo as
estratégias de busca da palavra desejada por diferentes sujeitos, a pesquisa
pode também auxiliar no desenvolvimento de estratégias alternativas no
acompanhamento terapêutico de sujeitos cuja linguagem tenha sido comprometida
por processos patológicos.
Os dados a serem analisados deverão emergir de práticas significativas
de linguagem, gerados em situações dialógicas de interação e de relatos em diário,
na perspectiva metodológica postulada por Vygotsky (1984/2009), de caráter
microgenético. Esta abordagem demanda, além da descrição de aspectos externos
do fenômeno (seus fenótipos), a explicação dos processos subjacentes
(postulando-se seus genótipos), estabelecendo relações causais acerca deste.
Trata-se, portanto, de uma abordagem de cunho histórico-cultural, o que confere
a esta pesquisa um caráter inédito.
Muito obrigado.
Marcus Vinicius Borges Oliveira
Fonoaudiólogo - CRF 9080 BA/T- RJ.
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